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Rosângela Felippe, entrevista

MAIRANY GABRIEL, A GUAXUPEANA QUE DANÇA PELA PAZ

Para a maioria, o primeiro contato social acontece por meio das danças de roda: nas tribos, nos espaços místicos, nas comemorações, nos rituais, nas escolas, nos parques ou até nos mais simples quintais.

Em diversas, ou em quase todas as culturas, o círculo formado por pessoas pode resultar em manifestações religiosas, contato com o sagrado, solidariedade, soma de energias, fortalecimento interior, entre outros efeitos de integração superando toda e qualquer adversidade. Uma forma de aceitação do outro. Uma forma de permitir que o amor pela humanidade se manifeste com intensa força.

Dotada de forte sensibilidade e espírito humanitário, para Mairany Gabriel as Danças Circulares tornaram-se um caminho que conduz à cura física e espiritual, à paz, às descobertas de si mesmo e, sobretudo, ao encontro com o amor universal.

Não é simples explicar com palavras o processamento das Danças Circulares Sagradas as quais exigem muito mais do que ritmo, entonação de vozes, movimentos irmanados e o envolvimento com o sublime. Mas Mairany, por meio desta entrevista, conseguiu transmitir com clareza o poder dos sentimentos unidos pelas danças. E é dançando que ela e os grupos que monitora sob a luz da espiritualidade revelam uma missão unicamente voltada à paz. Sim, a paz que, muitas vezes, não percebemos que se encontra no amor ao próximo, à verdade, à natureza, à humildade, ao perdão, à compreensão, à compaixão e ao respeito pelo direito do outro de alcançar a felicidade.

Mairany Gabriel nasceu na Rua João Alkimin, em frente ao grupo Delfim Moreira onde cursou o primário após ter cumprido o período pré-escolar no Parque Infantil.

Filha do saudoso Miguel Gabriel Isaac e da estimada guaxupeana Palmira Pasqua Gabriel, teve um único irmão, o talentoso compositor Miguel Flávio Gabriel (o Miguézinho).

Quanto aos pais, Mairany considera-os responsáveis pelo seu aprendizado quanto à honestidade, à ética e ao amor ao próximo. Sente-se grata a eles por essas lições de vida tão significativas ao caráter humano.

Como mãe é inegavelmente realizada ao lado dos filhos: Vicente Gabriel de Magalhães (artista plástico) e Julia Gabriel de Magalhães (fotógrafa). Uma avó devotada, sempre que pode não desperdiça tempo para estar ao lado de Joaquim Tonelli de Magalhães, o neto amado.

Atualmente, é conselheira do Conselho Municipal de Cultura da Paz de Campinas (COMPAZ), coordenadora do projeto Semeadoras da Paz que reúne mulheres voluntárias para cuidar de outras mulheres.

Com o marido, Angelo Antoni, divide o cotidiano e as rodas coordenando e ministrando com ele um Curso de Formação de Focalizadores de Danças Circulares Sagradas, em Campinas, onde residem.

 

Como foi que a menina morena, de cabelos encaracolados, que ajudava a sua mãe Palmira Pasqua Gabriel na Casa Strauss, descobriu o caminho das Danças Circulares?

Eu sempre gostei muito do comércio, estar na loja com meus pais era até uma diversão, mas percorri um longo caminho antes de “descobrir” as Danças Circulares Sagradas. Moro em Campinas desde 1975. Formei-me em piano e trabalhei um bom tempo com a música. Fiz faculdade de Educação Artística/Artes Plásticas, me especializei em Arte terapia, em Danças Circulares e Jogos Cooperativos, bem mais tarde fui dar aulas na rede estadual.

Gostava de fazer artesanatos, de tocar e dançar. Por esse motivo, fui convidada por uma amiga para uma dança diferente, que na verdade não sabíamos o que era. Um grupo de adultos, de mãos dadas e dançando danças gregas, escocêsas, dos balcãs e de tantos lugares diferentes. Não só me chamou a atenção Lembro-me que pensei: é isso o que quero fazer, se me fez bem vai fazer também para muitas pessoas!

 

Faça-nos uma breve resenha sobre o que são Danças Circulares.

Danças Circulares Sagradas são danças de todos os povos, em sua maioria dançadas em círculos e de mãos dadas. Os povos antigos sempre se manifestaram através das danças e muitas delas ainda estão preservadas. Na década de 70, um bailarino alemão chamado Bernhard Wosien resgatou algumas danças folclóricas do leste europeu e percebeu que essas danças mudavam o comportamento de seu grupo de bailarinos ou das crianças especiais que trabalhava. A pedagogia que hoje usamos foi construída com base no simbólico contido nos gestos e movimentos universais que as danças tradicionais trazem, o próprio círculo já propõe  mudanças de paradigmas com os grupos que assim trabalham. A simbologia transportada para músicas e coreografias contemporâneas tem o objetivo de fazer com que as pessoas  experimentem emoções e sentimentos, dançando. A cultura não é estática, o novo é bem vindo e isso contribui para que hoje o movimento mundial seja tão expandido.

 

Entre outros desígnios, as Danças Circulares têm como objetivo a integração entre povos e culturas. Você acredita que, ao se dedicar a esta atividade como focalizadora de grupos de danças, está unindo pessoas em uma sintonia com o bem e com a fraternidade universal?

Sem dúvidas, a dança sensibiliza os participantes a buscarem sua espiritualidade e rever seus conceitos. Todo trabalho feito em círculo já propõe um olhar diferente e na dança também podemos experimentar essa expansão de consciência. Chamamos focalizador quem “ensina” as danças ao grupo e a razão dessa denominação vem da Comunidade Holística de Findhorn, norte da Escócia, onde a dança começou. O focalizador não só ensina as danças, mas também deve manter o foco espiritual e o equilíbrio do grupo.

 

E qual o fundamento da formação do círculo humano para a expansão da consciência? De que forma o universo acata essa elaboração para corresponder ao crescimento da compreensão de si, de nós mesmos e do mundo em que vivemos?

Vamos começar pela geometria e o conceito de medida de um círculo, onde todos os pontos da circunferência estão equidistantes do centro. Na roda de danças significa que somos todos iguais, com a mesma importância. O centro tem o simbólico da verticalidade, da elevação, da expansão da consciência. As pessoas de mãos dadas representam a horizontalidade, a comunidade, o apoio e acolhimento.

Se pensarmos em uma dimensão muito maior, vamos nos lembrar que tudo é circular, o sistema solar, a via láctea e a nossa própria espiral evolutiva. Na geometria sagrada descobrimos formas mandálicas impressionantes em toda a natureza.

Nas danças trazemos essas representações através de gestos e passos arquetípicos, que estão no inconsciente coletivo e nosso corpo apenas os reconhece. Aos poucos vamos entramos em grande sintonia com o Universo, nos colocando em contato com o nosso Sagrado Pessoal e o Sagrado Universal.

 

Cada dança que você focaliza tem uma meta predeterminada, ou seja, um tema a ser trabalhado com o grupo?

Na maioria das vezes sim, mas pode acontecer de programarmos um evento e na hora o grupo pede outra dinâmica, podemos mudar tudo. É importante o Focalizador ter essa visão e flexibilidade. O mais importante é que as pessoas saiam felizes e em paz.

 

Seria correto definir o seu trabalho como uma prece coletiva em forma de dança?

Acredito que todas as maneiras que nos aproximam do nosso equilíbrio seja uma prece. No caso da dança, pode ser  meditativa ou muito alegre, ela sempre nos coloca frente a frente com o nosso Sagrado, com a natureza, com a Cultura da Paz.

 

Então, sendo assim, como você define o “Sagrado” no contexto das Danças Circulares?

Apesar de não estar ligado à nenhuma religião, o Sagrado no nome das Danças Circulares vem da possibilidade de cada um encontrar o seu sagrado pessoal, seu religare, a expansão da consciência, a visão além do nosso dia a dia.

Se acreditamos que o homem não é só corpo, precisamos trabalhar a essência que seguirá quando nosso corpo se for.

Seu trabalho, muito embora possa parecer simples diante dos leigos, exige muitos estudos e aperfeiçoamento. Descreva-nos os caminhos percorridos para se alcançar o nível de conhecimento que você já atingiu.

Existem cursos de Formação de Focalizadores em vários locais do Brasil. Normalmente começamos um grupo em Campinas sempre no mês de agosto. Em algumas cidades já existem grupos pela saúde pública, visto que as Danças Circulares foram reconhecidas como Práticas Integrativas e Complementares para serem aplicadas no SUS. Esse decreto do Ministério da Saúde é de maio de 2017.É aconselhável fazer uma formação para que o movimento não se perca ou se transforme em apenas atividade física, entendendo o papel do focalizador, a fidelidade e respeito com as coreografias, a responsabilidade e guiança amorosa com os grupos.

 

Qual é o efeito mais positivo que você tem observado com relação às Danças Circulares e às curas físicas, emocionais e espirituais?

Olha, vejo vários aspectos positivos, mas o equilíbrio, a calma, a alegria e o pertencimento são bem visíveis.

O ser humano necessita estar em grupos, a solidão é um dos maiores problemas e que acaba causando várias somatizações. Depois de uma hora de danças, muitos viram “novos amigos de infância”, isto é, se afinizam, fazem amizade, trocam cartões e se unem em trabalhos comuns.

O que é o movimento: Mulheres que se Curam?

O Mulheres que se Curam nasceu de uma escuta pessoal. Como seria trabalhar as fases lineares e cíclicas das mulheres através das Danças Circulares e da Arteterapia? São sete encontros terapêuticos, cada um abordando uma fase da mulher. Já estamos no 3º ano de formação de grupos.

 

Como é realizado o seu trabalho? Você utiliza sempre o mesmo espaço ou percorre vários locais formando novos grupos?

Eu não tenho um espaço fixo, mas tenho locais parceiros mais recorrentes. As pessoas me contratam para diversos lugares e com muita alegria vou plantando novas sementes, formando novos focalizadores, apresentando as danças ou o trabalho com o feminino.

 

Qual é a sensação ao se dançar pela sobrevivência da natureza? De que forma é possível certificar-se que os elementos naturais correspondem às danças que lhes são favoráveis?

Penso que deveríamos dançar primeiramente para nossa sobrevivência saudável. Naturalmente nosso corpo envelhece e nós podemos escolher como queremos envelhecer através de atitudes conscientes, entendo as danças como uma delas. Costumamos dizer que onde dançamos as mudanças acontecem. Se pensarmos que existe um campo mórfico e nós co-criamos a qualidade energética, fica bem simples entender que o que vibramos dançando transmuta a energia do lugar. Se é um lugar frequente, com certeza vemos as mudanças acontecerem ainda mais.

 

Há diferenças entre a forma de dançar para as águas e a forma de dançar para as vegetações, por exemplo?

Existem diferenças de gestos e passos, mas as intenções são fundamentais.

 

Qual a contribuição das Danças Circulares em prol da paz mundial?

Eu trabalho pela Cultura de Paz desde 2006. O próprio movimento das Danças Circulares propõe a Paz. Hoje, estou conselheira no Compaz (Conselho Municipal de Cultura da Paz) de Campinas e é uma missão muito subjetiva explicar o que faz esse conselho.

 

O que são os trabalhos pela Paz?

No meu entender, todas as ações que ajudam o ser humano entender as mudanças que ele mesmo precisa fazer para que o seu entorno mude. Como quero acabar com a violência sendo violento?

 

Guaxupé tem lhe aberto portas para desenvolver atividades com as Danças Circulares?

Já fizemos rodas abertas na Casa da Cultura, que sempre nos acolheu. Tivemos um projeto com a Casa da Criança, incluído num dos prêmios que ganhei do MinC e FUNARTE.

Nos anos de 2010/11, tivemos um projeto muito interessante de capacitação pela prefeitura/assistência social. Tínhamos pessoas bem envolvidas e além dos cursos fazíamos rodas no coreto, domingo de manhã.

Infelizmente não sinto abertura para novos eventos ou cursos, principalmente na educação e na área da saúde, onde temos a dança como um instrumento muito poderoso e com um custo benefício bem interessante.

Respeito opiniões!

 

Quais são as próximas etapas de apresentação do seu trabalho e quem poderá participar?

Todos os anos, no mês de agosto, iniciamos um curso de Formação de Focalizadores de Danças Circulares em Campinas. Também temos uma roda aberta e gratuita no Parque Ecológico de Campinas todo ultimo domingo do mês, das 10h às 12h. O Mulheres que se Curam está chegando à São Paulo esse ano e também fui convidada para levar o meu trabalho à Portugal. Tenho uma agenda flexível e pronta para novos voos!

 

 

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